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Paul Katchborian, o juiz que expulsava até o filho

Paul Katchborian foi um árbitro e bandeirinha nas décadas de 50 e 60, que apitou jogos dos campeonatos paulista, carioca, dentre outros torneios. Nascido em 6 de fevereiro de 1928, faleceu no ano de 2015. Mais um entre tantos personagens do universo do futebol que vivem no eterno anonimato de um país de pouca memória. Santista, se orgulhava de dizer que já tinha apitado jogos de um tal de Pelé. Paul passou sua paixão pelo alvinegro praiano aos filhos e netos. Mas acredite: apesar de sempre ter sido santista e de ter apitado vários jogos na Vila Belmiro, jamais havia entrado no Estádio Urbano Caldeira como torcedor. Um de seus filhos, e seu neto Pedro, o levaram então ao jogo Santos x Atlético Paranaense pela Libertadores de 2005. Paul estreava nas arquibancadas aos 77 anos. É bem verdade que o Santos saiu derrotado por 2 a 0, com dois gols de Aloísio Chulapa, mas para Paul o resultado pouco importou.

“A estreia do meu avô na Vila foi a minha estreia na Vila. Então eu lembro muito bem, apesar de ter, na época, só 13 anos. O que me surpreendeu foi a reação do meu avô: ele viveu tanto o esporte que encarava aquilo de uma maneira muito tranquila. A gente perdeu, mas ele só sabia falar que o jogo tinha sido bom”, conta o hoje jornalista Pedro Katchborian.

Apesar da experiência no futebol profissional, o maior feito aconteceu em uma peladinha. Na praia de Mongaguá, os amigos de Artur, filho de Paul, pediram para o ex-árbitro apitar o jogo. Ele aceitou, mas com uma ressalva: não ia roubar a favor do time do filho. Em certo momento da partida, Artur foi reclamar com Paul por conta do posicionamento da barreira adversária no momento de uma falta.

– Ah, pai…
– Aqui não sou teu pai, disse Paul, mostrando o cartão vermelho e mandando pra rua o próprio filho, sem titubear.

Como o sobrenome sugere, Paul é filho de armênios, que se refugiaram na França, onde o ex-árbitro nasceu. Aos 4 anos desembarcou no Brasil. Depois da arbitragem trabalhou nos Correios, e nos últimos anos convivia com as dificuldades da idade, especialmente com a pouca audição. O que não atrapalhava que Paul pudesse acompanhar o Santos. Em 2007, após o título paulista, Paul enviou uma foto para o neto. Sem ter uma camisa do alvinegro praiano, improvisou, segurando sua carteirinha de sócio em uma mão, e na outra um mousepad com o escudo santista. Uma brincadeira simples, mas que se transformou em uma valiosa recordação.

“O mousepad continua na casa do meu avô, lá em Mongaguá. O meu avô não tinha camisa do Santos – e meu pai nunca quis dar por que achava que não ia caber nele. Então, na hora de comemorar ele acabou improvisando. Mas a gente lembra com carinho e, com certeza a minha vó, ainda viva, deve guardar também a carteirinha de sócio dele”, finaliza Pedro.

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