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Especial Reportagem

Robert Hoyzer, o homem que quase manchou a Copa de 2006

Jovem e relativamente bem sucedido na função que exercia, Robert Hoyzer era um árbitro alemão em ascensão. Mas o que tinha talvez não fosse suficiente para sua ambição. Há dez anos atrás, em janeiro de 2005, a DFB, federação alemã de futebol, deflagrou um esquema de manipulação de resultados que apontava Hoyzer como o pivô do maior escândalo do futebol alemão desde a década de 70. Um ano antes de sediar a Copa do Mundo, a Alemanha se via diante de um velho problema do futebol.

No meio da temporada 2004/2005, os árbitros Lutz Michael Fröhlich, Olaf Blumenstein, Manuel Gräfe e Felix Zwayer, denunciaram as atuações do jovem juiz. Inicialmente, Hoyzer negou tudo, mas pressionado com as evidências colhidas, acabou cedendo. Hoyzer se encontrava regularmente em Berlim com um pequeno grupo de croatas, integrantes de uma organização criminosa, e combinava como os resultados seriam arranjados. Em 28 de janeiro de 2005, a polícia alemã decretou a prisão de Milan Sapina, operador do Café King, uma agência de apostas esportivas. De acordo com as investigações, cerca de €2 milhões de euros foram gastos com as atuações do árbitro, que ajudava os apostadores a sempre dar o palpite certo.

Além de Hoyzer, jogadores também entraram na mira da polícia, como o croata Simunic, o angolano Nando Rafael e o alemão Alexander Madlung, todos atletas do Herta Berlim, que teriam ligação com a família Sapina. Entretanto, não existiam provas da participação deles no esquema de manipulação.

A atuação de Hoyzer, de 2002 a 2004, interferiu em partidas da segunda e terceira divisões alemãs e na DFB-Pokal, a Copa da Alemanha. De acordo com as investigações, nenhuma partida da primeira divisão foi afetada. Um exemplo claro da manipulação aconteceu em 21 de agosto de 2004, em jogo válido pela primeira fase da DFB-Pokal. O tradicional Hamburgo receberia o pequeno Paderborn. Deu zebra! O azarão venceu por 4 a 2 com dois pênaltis questionáveis e com um a mais em campo, já que Émile Mpenza havia sido expulso por reclamação.

Com alguma esperança de receber uma pena reduzida, Hoyzer resolveu colaborar com as investigações, e citou nomes de árbitros e jogadores. Com isso, a descoberta do esquema trouxe alguns resultados práticos. O árbitro Dominik Marks foi banido do esporte e sentenciado a 18 meses de prisão. Milan Sapina e dois irmãos, operadores do esquema, receberam sentença entre 12 e 35 meses de reclusão. O árbitro Torsten Koop foi suspenso por três meses por não ter denunciado prontamente uma tentativa de aliciamento por parte de Hoyzer. Vários jogos passaram por avaliação da DFB. Alguns foram remarcados e outros tiveram o resultado mantido. Além disso, a federação pagou algumas recompensas financeiras a clubes afetados diretamente pela atuação dos criminosos, entre as equipes, o Hamburgo.

Já Hoyzer, além da prisão por 2 anos e meio, foi banido do esporte. Em 2011, essa pena foi parcialmente revista. Impedido de arbitrar, Hoyzer passou a jogar. Como meio-campista, atuou por dois anos pelo Teutonia Spandau e uma temporada pelo Spandauer Kickers. De interesse direto da federação alemã e da FIFA, o caso foi rapidamente solucionado e abafado, afinal, um escândalo desse porte poderia interferir diretamente na credibilidade da Copa do Mundo. Posteriormente, a DFB iniciou uma série de ações para prevenir a manipulação de resultados, algo sequer sinalizado pelas autoridades do futebol brasileiro em casos similares.

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