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Jogos históricos

Americano em Bagdá

O termo “americano”, quando relacionado aos assuntos do Iraque, logo nos leva a pensar e discutir sobre conflitos bélicos históricos entre o país asiático do Oriente Médio e os Estados Unidos da América. No entanto, houve uma passagem na década de 80 em que o futebol foi o centro desta relação, mas de uma maneira bem distante do que qualquer um poderia imaginar.

No ano de 1986, o Iraque promoveu um torneio amistoso em homenagem ao líder Saddam Hussein. Além da equipe campeã nacional naquela temporada, o Al-Talaba, fizeram parte da competição outras nove equipes: um combinado de atletas de Bagdá (basicamente a seleção nacional); os clubes Al-Rasheed, Al-Zawra’a e Al-Shorta, todos de Bagdá; o Al-Faysali, de Omã; o Al-Fahaheel, do Kuwait; o WAC Casablanca, do Marrocos; a seleção do Quênia; e, acredite se quiser, o Americano Futebol Clube, equipe brasileira da cidade de Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro.

Pouco se sabe sobre as razões ou como o clube foi convidado para esta competição. Na verdade, há poucas informações sobre quase tudo que envolve estes jogos. Quando iniciei a pesquisa, motivado pela possibilidade de um time brasileiro ter jogado em solo iraquiano, não sabia como procurar mais dados. Meu ponto de partida foi a RSSSF, entidade que réune pesquisadores do mundo todo. Lá, há os resultados deste torneio, graças a dois pesquisadores iraquianos. Como citei no início, usar a internet para pesquisar os termos AMERICANO, IRAQUE, BAGDÁ, SADDAM HUSSEIN, mesmo que aliados ao termo FUTEBOL, só me trouxe resultados sobre a guerra. Como minha curiosidade se manteve, pensei no nome de Stefano Salles. Jornalista e torcedor do America, Stefano é um profundo conhecedor da história do futebol do RJ e fui conferir com ele se podia me indicar um caminho. Rapidamente, ele conseguiu com uma fonte a informação de que: primeiro, era realmente o Americano que havia atuado nesta competição; e segundo, o ex-zagueiro Célio Silva, aquele que vestiu camisas de grandes clubes e da Seleção Brasileira estava nesta excursão. Busquei contato com o defensor, sem sucesso.

No entanto, é possível afirmar que o Americano estreou diante do combinado de Bagdá, e acabou perdendo por 2 a 0. No jogo seguinte, frente ao Al-Faysali, o alvinegro se recuperou e aplicou 3 a 0. Na sequência, mais duas vitórias, que garantiram que o clube avançasse de fase: 2 a 1 sobre o Al-Talaba e uma goleada de 4 a 0 sobre a seleção queniana. Na semifinal, o Americano acabou sucumbindo contra o Al-Rasheed, pelo placar de 2 a 1. Mas ainda houve tempo para mais uma vitória, na disputa de terceiro lugar. 2 a 0 sobre o Al-Zawra’a.

Na decisão do campeonato, o Al-Rasheed venceu o Bagdá XI por 2 a 1, e se sagrou campeão. Provavelmente, os vencedores devem ter ganho alguma recompensa; similar ao que Célio Silva e os demais atletas do Americano receberam. O ex-zagueiro guarda até hoje um relógio com o rosto de Saddam Hussein ao fundo, uma relíquia da história do futebol.

Acervo/Célio Silva

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