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Milionários, os Globetrotters do futebol brasileiro

Uma equipe formada por artistas da bola, itinerantes, que mais do que o resultado, interessava mesmo era dar alegria ao povo. E claro, arrecadar uma boa grana com sua arte. Eu poderia estar falando dos Harlem Globetrotters, um clube de basquete americano que realiza exibições acrobáticas do esporte desde os anos 20. Mas estou falando do Milionários Futebol Clube, de São Paulo, uma equipe que reuniu grandes nomes do futebol brasileiro, principalmente entre os anos 60 e 80. E assim como os Globetrotters americanos que nasceram em Chicago mas se estabeleceram em Nova York, os milionários brasileiros foram criados no Rio de Janeiro, no bairro de Fátima, em 1964 e se mudaram para outra metrópole. Idealizado por João Mendes Toledo, porteiro da TV Bandeirantes, o clube partiu para São Paulo em 71.

Na forte cena amadora local, com equipes recheadas de profissionais para levantar os títulos da Várzea, Toledo também foi atrás dos cobras. Mas o dirigente logo percebeu o potencial financeiro que aquela equipe poderia lhe trazer. E transformou o Milionários em uma equipe de Masters itinerante. Fazendo excursões pelo país todo, faturava um bom dinheiro, dando aos jogadores polpudos cachês. Em Itabuna-BA, no fim dos anos 70, o Milionários jogou para um público de mais de 30 mil pessoas, arrecadando 285 mil cruzeiros (R$ 70 mil), um recorde financeiro para a equipe.

O Milionários ficou conhecido também por ser a última equipe de Garrincha, aproximando o ídolo decadente do sucesso que um dia lhe foi tão comum. O jogador (na foto abaixo, ao lado de Ademar Pantera), principal estrela da companhia, recebia em torno de 5 a 8 mil cruzeiros por jogo, algo em torno de R$ 1.200,00 a 2 mil reais, em valores corrigidos. Em 79, no feriado de 1º de Janeiro, 40 mil pessoas estiveram no estádio Pedro Pedrossian, o Morenão, para assistir um jogo festivo contra um selecionado de Masters local, pela inauguração do estado do Mato Grosso do Sul. “Garrincha inaugura um estado”, estampou a manchete da Revista Placar, na época.

Em 17 de setembro de 1982, Garrincha fez sua última partida como estrela “milionária”. Na pequena cidade de São Pedro, a 200km da capital paulista, o Milionários enfrentou e venceu o selecionado local por 3 a 2. Garrincha pouco fez. Já distante da imagem do que já foi um dia, o Mané atuou por apenas 30 minutos. Foi também a última vez que o bicampeão mundial entrou em um campo de futebol. Quatro meses depois, em 20 de janeiro de 1983, Garrincha faleceu. Além do Anjo das Pernas Tortas, a equipe contou com nomes como os de Djalma Santos e Bellini, campeões mundiais e dos craques Ailton Lira, Amaral, Careca Serginho Chulapa, Zenon, Neto, Chicão, entre outros.

Para Djalma Santos, o Milionários era uma forma de ajudar antigos craques a conseguirem um salário após a aposentadoria, e prosseguir fazendo o que mais gostavam. “O bichinho até que ajuda, mas a maioria vem mesmo é porque a gente passa um dia gostoso, alegre, bem tratado, sem compromissos. A gente é assim, aonde a bola vai, a gente vai atrás”. O clube também jogava, não apenas por dinheiro. Em 89, como registrou Placar, o Milionários visitou o Carandiru sem custos. “Jogar para aquela gente toda foi uma causa nobre que nos emocionou”, disse Marco Antônio, ex-jogador do Corinthians e irmão do também corintiano Zé Maria, o Super Zé. e que passou a cuidar da equipe a partir de 99, com o falecimento do fundador João Mendes Toledo. Aparentemente, a equipe não faz mais jogos desde o início desta década. Mas ficou marcado para sempre como o mais conhecido time de Masters do Brasil.


Créditos das imagens:
Escudo digitalizado por Virginio Saldanha. Reprodução Blog História do Futebol.
Fotos: Acervo da Revista Placar.

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