Na primeira metade do século XX, a Europa viveu momentos de grande tensão política, que culminaram em diversas guerras e levantes. Batalhas internas e também por expansão de territórios. Como não poderia deixar de ser, o futebol também foi afetado por esses conflitos. Além da paralisação de atividades, como aconteceu parcialmente durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), muitos atletas e pessoas do futebol perderam suas vidas, como um mero civil ou estando na linha de frente. Um deles foi o iugoslavo Bozidar Petrovic, o Bosko, zagueiro, que se destacou não apenas por defender as equipe em que jogou mas também por defender seus ideais políticos.
Petrovic nasceu em 7 de abril de 1911, em Bela Palanka, no então Reino da Sérvia, que viria a tornar-se Iugoslávia, em 1918. Desde menino seu interesse por futebol era evidente. Assim como pela política. Dividia seu tempo entre a prática do esporte e os estudos. Mais tarde, ingressou no curso de Direito da Universidade de Belgrado, e se filiou no Partido Comunista, considerado ilegal naquele momento pelo governo real. Entre 1932 e 1936, jogou pelos seguintes clubes: o FK Vojvodina (32-34), o SK Jugoslavija (34), que seria fechado pelos comunistas após o fim da Segunda guerra para formar o atual Estrela Vermelha, e o BSK Belgrado (35-36), hoje OFK Belgrado. Em 1934, foi convocado para sua primeira e única apresentação pela seleção iugoslava. No dia 16 de dezembro, enfrentou a França, no estádio Parc des Princes. O defensor jogou até os 38 do primeiro tempo, quando foi substituído por Zvonimir Jazbec. Os franceses venceram pelo placar de 3 a 2.
Em 1936, decide abandonar o futebol e se dedicar exclusivamente à profissão de piloto aéreo, se mudando para Paris em busca de aperfeiçoamento. Em julho daquele ano, foi deflagrada a Guerra Civil Espanhola, um dos mais sangrentos conflitos bélicos do século passado. Os Republicanos, contrários ao Nacionalistas liderados pelo General Francisco Franco, receberam apoio da então União Soviética e das Brigadas Internacionais, grupo apoiado pela Internacional Comunista e que contava com voluntários das mais diferentes nacionalidades, entre eles diversos sérvios e albaneses, por exemplo. Convicto de poder ser útil, Bosko se voluntaria e recebe um passaporte falso para entrar na Espanha, com o nome nada original de Fernandez García. Desembarcou primeiro em Albacete, e dali foi para Valencia, onde passou a fazer parte da esquadrilha republicana. Em 1937 caiu ferido, mas não deixou de lutar após sua recuperação. Se tornou um dos mais destacados pilotos aéreos à frente de aeronaves soviéticas, como a Tupolev SB e a Polikarpov I-15, das mais modernas da época. Entretanto, um ano após o início da Guerra Civil, foi a vez de Petrovic, aos 26 anos, ser derrubado com êxito por seus inimigos. Em 12 de julho de 1937, seu avião foi atingido por um C.R 32 de maneira fatal durante uma intensa batalha em Villanueva de la Cañada. Seu irmão, Dobre, que havia acabado de chegar à Espanha, fica sabendo da morte de Bosko e decide se juntar à luta dos republicanos.
Apesar da morte precoce e de seu enterro pouco digno em uma das valas comuns, a luta de Petrovic não foi esquecida. Em Belgrado, capital sérvia, há um monumento em homenagem às Brigadas Internacionais. No Estádio Partizan, de clube do mesmo nome, há uma placa, colocada em 1959, em lembrança do piloto e jogador, assim como há também ruas com seu nome nas cidades de Belgrado, Novi Sad e Ivanjica. Os republicanos espanhóis, apesar do apoio dos comunistas, foram derrotados pelas tropas de Franco, que em 1º de abril de 1939 instaurou o regime franquista, que perdurou até 1977, dois anos após o falecimento do ditador espanhol.