Belo bigode, não? Ele pertence a Abe Van Den Ban, um jogador que virou um ícone cult do futebol holandês, principalmente graças ao seu estilo retrô. Não que seu futebol não fosse suficiente, mas além de não ter tido grandes êxitos, sua imagem sempre se sobressaiu ao futebol. Van Den Ban nasceu em 14 de outubro de 1946, em Westzaan. Iniciou sua vida esportiva em outra modalidade, o basquete. Ainda jovem, entrou no ZFC de Zaandam, equipe que na época era profissional e militava na segunda divisão. Após se destacar na primeira equipe, em 1970, aos 23 anos, foi contratado pelo Az Alkmaar, mas foi pouco aproveitado, jogando poucas partidas.
Em 72, se mudou para o FC Amsterdam, recém-fundado. E logo na segunda temporada, em 73-74, a equipe chegou a um incrível 5º lugar, conquistando o direito de disputar a Copa da Uefa da temporada seguinte. Na competição continental, o time holandês não fez feio. Com Van Den Ban de fora, o Amsterdam goleou o Hibernians na primeira fase fazendo 12 a 0 no agregado e na segunda fase venceu a Internazionale por 2 a 1 em pleno Giuseppe Meazza, segurando o empate sem gols na capital holandesa.
Den Ban retornou na terceira fase e participou das duas boas vitórias diante do Fortuna Dusseldorf, por 3 a 0 em casa, e por 2 a 1 na Alemanha. Nas quartas-de-final, contra o também alemão Colônia, Van Den Ban foi expulso na primeira partida. O Amsterdam perdia por apenas 2 a 1 até a expulsão de Ban, aos 16 minutos do segundo tempo. Com um a menos, acabou sofrendo um hat-trick de Dieter Müller. Na volta, nova derrota, dessa vez por 3 a 2. Van Den Ban permaneceu na equipe até 1976 e somou 82 jogos e 6 gols. O Amsterdam seguiu na primeira divisão até 78 e depois de disputar quatro temporadas na segunda divisão, foi extinto em 82, dez anos após a fundação.

Foi no Amsterdam também que Van Den Ban viveu um dia de fúria. Em 1972, pela extinta Copa Intertoto, diante do eslovaco Nitra, o dono do bigode estava revoltado com a arbitragem. Tamanha revolta o fez tirar o cartão amarelo do bolso do árbitro e lhe aplicar a advertência. Naturalmente, Van Den Ban recebeu de troco o cartão vermelho.
Já experiente, Van Den Ban se mudou para o Harleem, uma das mais antigas equipes do país e que havia acabado de retornar à elite. Depois de três temporadas de desempenho irregular, o clube enfim foi novamente rebaixado, em 79-80. Mas se o Harleem não era forte o bastante para bater de frente com os maiores clubes dos Países Baixos, ao menos tinha força o suficiente para retornar sem sustos. Foi campeão com 54 pontos, oito a mais que o Heerenveen, segundo colocado. Foi o único título da carreira de Van Den Ban.
De volta à Eredivisie, o Harleem ficou no top 4 em duas das primeiras três temporadas. O clube só voltou a ser rebaixado em 89, e não retornou mais. Em 2010, o clube faliu e se fundiu com o HFC Kennemerland e se transformou no Haarlem Kennemerland, clube amador das mais baixas divisões do futebol holandês. Pelo Harleem, Van Den Ban disputou 152 jogos e marcou dois gols.

Após deixar os gramados, passou por diversas áreas, inclusive abrindo uma barbearia. Em 2012, recebeu uma homenagem de blogueiros e jornalistas holandeses, que se reuniram para uma partida. Ambas as equipes tinham no escudo a imagem de Van Den Ban e seu pomposo bigode, que se tornou referência do futebol alternativo na Holanda. Atualmente, Van Den Ban perdeu os cabelos. Mas ainda ostenta o pomposo bigode, sua marca registrada.
Texto originalmente publicado em 21 de fevereiro de 2016, no blog Escrevendo Futebol.