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Reportagem

O (quase) primeiro jogador brasileiro do futebol inglês

Brasileiros atuando no futebol inglês são tendência crescente. Atualmente, o Brasil é o 4º país com mais jogadores na Premier League, atrás apenas de Espanha, França e, obviamente, Inglaterra. Mas há um tempo, jogadores brasucas eram raridade. O primeiro brasileiro na Terra da Rainha para jogar futebol foi Mirandinha, no fim da década de 80, que vestiu a camisa do Newcastle e conquistou uma interessante idolatria. Mas quase dez anos antes, foi Paulo Cezar Caju quem perdeu a chance de desbravar o futebol do kick and rush.

Caju, tricampeão do mundo com a Seleção em 70, ídolo do futebol carioca e já com uma passagem pelo futebol francês, estava com 30 anos em 1979 e tinha seu passe pertencente ao Botafogo. Foi quando chegou uma proposta vinda do Fulham, tradicionalíssimo clube de Londres, e que comemorava seu centenário na segunda divisão inglesa, onde estava desde 71. O clube carioca aceitou prontamente os 3,8 milhões de cruzeiros pelo jogador, que partiu para Londres para conhecer o clube inglês e acertar os últimos detalhes do contrato.

Recomendado por Daniel Hechter, um designer de moda que presidiu o Paris Saint-Germain na década de 70, Caju se encantou com Londres. “O ambiente é ótimo, o técnico Bobby Campbell muito boa pessoa, o estádio dá para 40 mil pessoas e eu gostei do jeito do time, uma meninada boa”, disse o jogador em entrevista ao repórter Jader de Oliveira, da Placar. A efetivação do contrato, porém, esbarrava em um problema inicial: o fisco inglês. O jogador brasileiro não queria ter parte do seu salário engolido pelo “leão britânico”. “Estamos estudando um esquema para que eu não seja tão pesadamente taxado”, explicou, provavelmente pensando em uma pedida salarial mais alta.

Jogadores fugindo de imposto de renda não são exatamente uma novidade no mundo do futebol, mas esse não foi o único motivo para o recuo do clube inglês na contratação. O Botafogo exigiu que o Fulham pagasse em dinheiro vivo a transação. A razão do pedido era o calote sofrido pelo Fluminense na negociação de Rivellino com o Al Hilal, da Arábia Saudita. O problema é que o futebol inglês não é o futebol árabe, e naturalmente a direção do Fulham se sentiu ofendida. “O que me pedem contraria nossos princípios. Somos um clube sério que jamais deixou de honrar os compromissos” disse Campbell.

No fim das contas, só restaram arrependimentos: por parte de Caju, que via no futebol inglês uma chance de brilhar ainda mais e de arrecadar um bom dinheiro e por parte do Fulham e de Bobby Campbell. Com apenas 11 vitórias na temporada, a equipe foi rebaixada para a terceira divisão nacional e o treinador foi demitido logo após o início da temporada seguinte.

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