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Sam Arday, o primeiro técnico africano medalhista olímpico

Desconhecido do grande público, Samuel Hemans Arday, ou apenas Sam Arday, foi um dos mais influentes treinadores da história do futebol africano, conquistando grandes feitos com a seleção de Gana em todas as categorias. Nascido em 2 de novembro de 1945, o treinador levou o país (e o continente) a uma inédita medalha olímpica no futebol (bronze, em Barcelona, 1992) e ao título do Mundial sub-17 de 1995. 

Sam Arday era adepto do multissistema, que consistia na troca de sistema de jogo durante o decorrer da partida. Ou seja, alternava entre o 4-4-2, o 4-3-3 e até o 3-5-2 dentro dos 90 minutos. Os resultados que Arday obteve realçaram o fato de que ele foi um dos primeiros treinadores locais a utilizar métodos científicos de treinamento. Ele começou sua carreira como treinador em 1991, na seleção sub-20 de Gana, ficando com a terceira colocação do Campeonato Africano Juvenil. No ano seguinte, assumiu a seleção olímpica e se classificou para as Olimpíadas de Barcelona. Na Espanha, Gana ficou no grupo D, com Austrália, Dinamarca e México. Após vencer os australianos na estreia, Gana garantiu a liderança do grupo com dois empates nas partidas restantes. Nas quartas de final, vitória por 4 a 2 sobre o Paraguai com três gols de Kwame Ayew, um dos irmãos do mítico Abedi Pelé. Porém, nas semifinais, pouco pôde fazer diante dos anfitriões, e a Espanha passou à final ao vencer por 2 a 0. Na decisão de 3º lugar, Gana voltou a enfrentar a Austrália. Dessa vez, o jogo foi mais duro do que na primeira fase (Gana havia vencido por 3 a 1), mas Asare, logo aos 19 minutos, marcou o único gol da partida que deu ao continente africano a inédita medalha olímpica (que se tornaria dourada quatro anos depois com os nigerianos). 

Após a campanha, Sam deu sequência ao trabalho olímpico e assumiu o comando da seleção sub-17 de Gana após o vice-campeonato mundial, em 93. Em 1995, a CAF (Confederação Africana de Futebol) organizou o primeiro Campeonato Africano da categoria, e Gana faturou o título e a classificação para o Mundial sub-17, que seria disputado naquele mesmo ano no Equador. Gana ficou no grupo A com os donos da casa, os Estados Unidos e o Japão e fechou a primeira fase com 100% de aproveitamento. Nas quartas-de-final eliminou Portugal por 2 a 0. Depois venceu a surpreendente seleção de Omã por 3 a 1 nas semifinais, e na finalíssima derrotou o Brasil por 3 a 2, conquistando o segundo mundial da história de Gana. Aquela Seleção Brasileira tinha nomes como os do goleiro Julio César, o zagueiro Juan (ambos ex-Flamengo e seleção principal), o volante Renato (ex-Santos e Sevilla) e Edu (ex-Betis).

Em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta, Sam Arday voltou a reencontrar o Brasil, nas quartas-de-final do torneio olímpico. Depois de sair atrás do placar, Gana virou o jogo para cima dos brasileiros já no início do segundo tempo. Mas o ainda jovem Ronaldo marcou duas vezes e Bebeto completou a vitória brasileira por 4 a 2, acabando com o sonho de mais uma medalha olímpica.

Após as Olimpíadas de Atlanta, Sam assumiu a seleção principal de Gana, mas não durou no cargo mais do que um ano. Entretanto, seu trabalho de base consolidou Gana como uma potência local. Vários atletas que fizeram parte da seleção classificada para a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, passaram pelas mãos de Arday. Em 1999, se tornou diretor técnico de uma academia de futebol em Accra, fundada pelo Feyenoord, da Holanda. Em 2004, teve outra curta passagem pelo comando técnico da seleção principal e no mesmo ano passou sem sucesso pelo Ashanti Gold, encerrando sua carreira como treinador (ele também treinou as equipes Asante Kotoko e Hearts of Oak). Após a Copa de 2006 seguiu fazendo parte da federação como consultor técnico e mais recentemente era diretor técnico de uma academia de futebol. No dia 12 de fevereiro de 2017, aos 71 anos, Sam Arday finalizou sua jornada neste mundo, deixando um importante legado para o futebol do continente africano.

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